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terça-feira, 22 de setembro de 2015

E SE O AÉCIOPORTO FOSSE O PRESIDENTE?

Uma farsa. A crise e a corrupção desapareceriam — mas só das páginas de jornais e revistas.

por : Paulo Nogueira

E se Aécio fosse o presidente?
É uma pergunta boa para estes tempos. Muitos a têm formulado, e as respostas em geral são 
estapafúrdias.
Delfim Netto, por exemplo, disse que Aécio teria tomado as providências certas para conter a crise.
Mas um momento: quais são as providências certas?
Aécio prometeu antes da campanha, num ambiente de plutocratas, “medidas impopulares”.
Depois, num estelionato que só não se concretizou porque ele perdeu, negou as “medidas 
impopulares”.
Mas é evidente que ele iria tomá-las. Basicamente, cortes em programas sociais.
Aécio é comprometido demais com a plutocracia para fazer qualquer coisa que fira seus interesses.
Teríamos, na especulação de um Aécio presidente, as “medidas impopulares” que privadamente ele 
defendeu e publicamente renegou.
Mas ele não seria acusado de estelionato.
E eis um ponto vital para compreender o que seria a presidência de Aécio: a mídia iria mudar 
completamente de atitude.
A crise seria mundial. Jornais e revistas mostrariam a China apanhando, os Estados Unidos 
apanhando, a Alemanha apanhando – todo mundo enfim apanhando.
Um baixo crescimento em 2016 seria tratado como um feito.
Quem conhece o mínimo do trabalho numa redação sabe como é fácil substituir a vaia pelo aplauso 
em circunstâncias iguais.
Aécio reproduziria, em escala nacional, o que fez em escala regional nos seus anos de governador de 
Minas.
Encheria de anúncios a mídia amiga, numa retribuição aos carinhos recebidos. E asfixiaria a 
imprensa independente.
Poderíamos ter o restabelecimento do monopólio de voz e opinião das grandes corporações, sem os 
sites que com imensos sacrifícios serviram e servem de contraponto à Globo, à Veja, à Folha etc.
A Abril, agonizante pelas regras do mercado, ganharia uma sobrevida com o dinheiro público que 
Aécio lhe canalizaria.
Não são só anúncios, embora sejam a parte maior da mãozinha. São empréstimos de bancos oficiais, 
compras de livros e de assinaturas, isenções de impostos e outras marmeladas com que sucessivos 
governos brindaram Globo, Abril, Folha, Estadão e por aí vai.
O clima funéreo que domina o noticiário hoje seria magicamente substituído por um tom otimista.
É conhecida a frase de Medici a respeito do Jornal Nacional no auge da ditadura. O mundo em 
colapso, e o Brasil uma beleza no JN, disse Medici.
Essencialmente, seria restabelecida a mesma lógica de seleção de notícias.
E então, como que num milagre, a corrupção desapareceria – não da dura realidade, mas das páginas 
de jornais e revistas.
É só não dar.
Tudo isso embalaria uma brutal acentuação da desigualdade no país. O receituário de Aécio é, a 
exemplo do de FHC, uma cópia da fórmula de Margaret Thatcher.
Nos países desenvolvidos, o thatherismo levou a uma selvagem concentração de renda. Se isso não 
fosse o bastante, levou também à crise econômica de 2008, que até hoje castiga o mundo.
Na origem da crise, está a desregulamentação dos bancos, tão fortemente defendida pelos seguidores 
de Thatcher.
Entregues à próprio ganância, sem nenhum tipo de freio e controle, os bancos fizeram negócios com 
um risco altíssimo de inadimplência – e quebraram.
A conta foi paga pelo contribuinte, por meio dos bilhões e bilhões de dólares que os bancos centrais 
dos países desenvolvidos puseram nos seus bancos para evitar uma quebradeira.
A desigualdade, sob Aécio, avançaria, mas isso também não seria notícia na imprensa.
Nunca foi, aliás, e o motivo é que os donos das empresas de jornalismo sempre se beneficiaram da 
estrutura iníqua que marca o Brasil. Basta ver o patrimônio deles.
Seria este o Brasil sob Aécio: plácido, firme, só que de mentirinha.
Para resumir: seria infinitamente pior.
A sociedade tem todos os motivos para dar graças a Deus pela derrota de Aécio e de tudo aquilo que 
ele representa.

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