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sábado, 22 de março de 2014

Em Berlim, Figueiredo reforça neutralidade brasileira sobre Crimeia


Apesar de encontro descontraído, chanceler brasileiro e Steinmeier reiteram posições divergentes quanto à política dos países sobre a crise na Ucrânia. Alemão alerta para perigo de divisão na Europa.

O ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier, recebeu nesta sexta-feira (21/03) o chanceler Luiz Alberto Figueiredo em Berlim. E apesar do clima descontraído, com seguidas brincadeiras entre os dois sobre a Copa do Mundo, a diferença de opinião entre os dois países sobre a crise na Crimeia ficou clara.
Apesar de Steinmeier afirmar que a única questão em aberto da reunião foi quem vai ganhar o Mundial, a Alemanha reforçou sua posição – equivalente à de outras potências ocidentais – de apoio à aplicação de sanções à Rússia. Já o Brasil preferiu manter a neutralidade, apesar das críticas de diplomatas, observadores e parte da imprensa brasileira.
Figueiredo disse que aprecia a posição alemã de equilíbrio, de busca do diálogo e de reduzir as tensões em relação à crise na Ucrânia. Ele afirmou, ainda, que é exatamente esse o espírito pelo qual o Brasil encara a situação da anexação da Crimeia pela Rússia. Como exemplo, ele citou que existem cerca de 500 mil descendentes de ucranianos no Brasil e que o país é uma nação amiga.
“Concordo com Steinmeier quando ele disse que temos que ultrapassar a lógica da Guerra Fria, que nós tínhamos jogos de soma zero e uma espiral crescente de medidas”, afirmou Figueiredo. “Estamos vendo uma espiral crescente de sanções e contrassanções. Apoiamos os esforços do secretário-geral da ONU e apelamos para todas as partes envolvidas à moderação e busca do diálogo. Essa é a colaboração que o Brasil pode dar, de estimular o dialogo e consenso, além de diminuir tensões.”
O ministro alemão afirmou que a crise na Ucrânia continua sendo um conflito perigoso também dentro do contexto da América Latina, quase sete décadas depois da Segunda Guerra Mundial e 25 anos após o fim da Guerra Fria “Não podemos esmorecer na convicção dos nossos parceiros”, disse, em relação à União Europeia.
Para o ministro alemão, há realmente um perigo de divisão da Europa, que segundo ele não é virtual, e riscos de conflitos que podem ameaçar a segurança mundial. Além disso, Steinmeier afirmou que a comunidade internacional está se esforçando para alcançar soluções, que até o momento não existem.

“A comunidade internacional está empreendendo esforços para dar os primeiros passos em direção ao abrandamento deste conflito e não entrar automaticamente numa escalação diária”, afirmou Steinmeier. “Se seremos bem-sucedidos, não sabemos, mas continuaremos bem empenhados no envio de uma missão da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). As conversas continuam e acredito que chegaremos a uma solução.”
Durante a coletiva, os dois ministros fizeram diversas brincadeiras sobre quem vai ser a seleção campeã da Copa do Mundo deste ano. Em clima descontraído, Steinmeier deu de presente para Figueiredo uma bola de futebol autografada por vários jogadores da seleção alemã. O chanceler brasileiro convidou o alemão a visitar o Brasil durante o Mundial.
Missão da Unasul rumo a Caracas
 
Questionado por jornalistas sobre a crise na Venezuela – onde a repressão a protestos já deixou 31 mortos e centenas de presos – Figueiredo reafirmou a posição que o Brasil apoia o diálogo entre as forças políticas venezuelanas. O chanceler disse que deverá viajar no início da próxima semana para Caracas juntamente com outros ministros da Unasul.
“Esse grupo tem o objetivo de acompanhar o diálogo entre as forças políticas da Venezuela em busca da pacificação”, disse Figueiredo. “Por solicitação do próprio presidente Nicolás Maduro, iremos para lá e esperamos que essa missão de ministros possa render frutos em termos de obtermos uma nova situação na Venezuela, sempre com o respeito à democracia, institucionalidade e leis.”
Sobre o possível acordo de livre-comércio entre União Europeia e Mercosul, Figueiredo disse que negociadores dos dois blocos se reuniram nesta sexta-feira em Bruxelas para discutirem o formato das ofertas. Depois dessa etapa, segundo o chanceler, será marcada “em breve” uma data para a troca de ofertas entre os dois lados.
Parceria estratégica
O chanceler brasileiro afirmou que é importante notar como os dois países convergem nos principais temas da agenda de paz e de segurança internacional. Ele citou a iniciativa conjunta do Brasil e da Alemanha sobre uma resolução contra a espionagem e a favor da proteção da privacidade na era digital, que foi aprovada na Assembléia Geral da ONU em dezembro.

Apesar de não serem legalmente obrigatórias, as resoluções aprovadas pela Assembleia Geral têm valor simbólico, por representarem o sentimento dominante entre a comunidade internacional. “A privacidade na era digital e a garantia da liberdade de expressão no âmbito da internet são preocupações conjuntas dos nossos países”, afirmou Figueiredo.
E a parceria não deve ficar em relação ao tema privacidade na internet. Os dois países preparam a realização de consultas intergovernamentais a partir de 2015. O mecanismo, a ser realizado pela primeira vez entre Brasil e Alemanha, vai ter a participação dos chefes de governo e ministros, simbolizando a subida de mais um degrau da parceria estratégica.
Há a possibilidade de promoção de uma joint venture entre pequenas e médias empresas dos dois países em áreas como energia renovável e de ciência e de tecnologia. Para isso, os chefes de Estado e ministros dos dois países deverão se encontrar no Brasil ou na Alemanha para assinar acordos em diversas áreas.
“A conversa de hoje demonstrou que as relações entre Brasil e Alemanha são muito próximas”, afirmou Steinmeier, que ainda citou que os dois países trabalham em conjunto para a reforma da ONU e participam de diversos fóruns internacionais.
Em 2013, o intercâmbio comercial entre os dois países alcançou o valor de 21,7 bilhões de dólares. A Alemanha é o principal parceiro comercial do Brasil na Europa e o quarto no mundo – atrás somente de China, EUA e Argentina. De acordo com o Itamaraty, mais de 1.200 empresas alemãs estão instaladas no Brasil.


Fonte: DW

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