O MViva!, espaço aberto, independente, progressista e democrático, que pretende tornar-se um fórum permanente de ideias e discussões, onde assuntos relacionados a conjuntura política, arte, cultura, meio ambiente, ética e outros, sejam a expressão consciente de todos aqueles simpatizantes, militantes, estudantes e trabalhadores que acreditam e reconhecem-se coadjuvantes na construção de um mundo novo da vanguarda de um socialismo moderno e humanista.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

NASCIMENTO E MORTE DO SOCIALISMO


Revoluções de 1848 na Europa, o berço do socialismo 

O socialismo, como força política significativa, surgiu na Europa em meados do século XIX, depois da grande vaga revolucionária de 1848 e da Comuna de Paris de 1871. O movimento se armou com as teorias comunistas elaboradas por Karl Marx e Friedrich Engels, organizando-se em sindicatos e partidos operários, principalmente na Alemanha e na França, onde se forjaram atuando a duras penas, sob a repressão implacável de Otto von Bismarck e Napoleão III, respectivamente. O programa original dos socialistas europeus – já então conhecidos como social-democratas – era revolucionário: na esteira de Marx e Engels, previa que as contradições internas do capitalismo abririam o caminho para uma revolução do proletariado e a implantação do socialismo. Para a social-democracia nascente, a democracia representativa era apenas um meio de se fortalecer para denunciar o capitalismo.

Karl Marx e Friedrich Engels
Mas no final do século XIX, ao perceber que a crise final do capitalismo não acontecia e que as condições materiais da classe operária melhoravam, principalmente por causa da ação dos socialistas, teóricos e políticos como Edward Bernstein (Alemanha) e Alexandre Millerand (França) começaram a pensar que a revolução se tornara impossível e que agora a tarefa dos socialistas era lutar para reformar o capitalismo, tornando-o mais humano. Essas teses, chamadas de “revisionistas” e “possibilistas” foram atacadas pela nata da II Internacional, de Karl Kautsky a Rosa Luxemburgo, passando por Georg Plekânov e August Bebel. Mas a II Internacional só racharia mesmo com a Primeira Guerra Mundial, quando seus principais dirigentes decidiram apoiar seus governos nacionais. Líderes como Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Vladimir Lênin denunciaram o “chauvinismo” das lideranças da organização e romperam com ela.

A Revolução Bolchevique de Outubro de 1917
O racha se tornaria definitivo em 1917, quando Lênin e Trotsky lideraram a revolução bolcheviue (comunista) na Rússia czarista. A partir de então, o movimento operário se dividiu em duas alas inconciliáveis: de um lado os social-democratas ou socialistas, que acabaram adotando as teorias de Bernstein/Millerand, embora, num primeiro momento, sem abandonar o discurso marxista; de outro, os comunistas, que diziam que apenas resgatavam a tradição revolucionária abandonada pela II Internacional. A III Internacional (ou Komintern), com sede em Moscou, surgia como a sede da revolução socialista internacional, esperando pelo despertar do proletariado ocidental.

Stálin na Praça Vermelha
Mas a revolução mundial faltou ao encontro. Fracassou na Alemanha, na Hungria, na Polônia e na Itália. Os soviéticos então recuaram a adotaram a ideia – até então estranha ao marxismo – de “socialismo num só país”. A partir de então, o experimento comunista na União Soviética, com a perenização de uma ditadura de partido único, parecia indicar o único caminho possível à esquerda revolucionária mundial – dissidências como o trotskismo eram marginais. Mesmo com a coletivização forçada entre 1929-1934, a derrota dos republicanos na guerra civil espanhola de 1936; os sangrentos expurgos de 1936-1938 no PC soviético e o colossal erro de avaliação da III Internacional, cuja subestimação do perigo nazista na Alemanha impediu a formação de uma aliança entre comunistas e socialistas. Mas o decisivo envolvimento do Exército Vermelho na II Guerra na derrota do nazi-fascismo, bem como a formação de inúmeras guerrilhas comunistas contra os alemães em vários países europeus (Itália, França, Iugoslávia) levou o prestígio da URSS aos píncaros.

Willy Brandt no Congresso de Bad Godsberg (1959)
O fim do conflito mundial trouxe a bipolaridade EUA/URSS e a Guerra Fria. Regimes pró-soviéticos dominaram o Leste Europeu. E a social-democracia finalmente deu adeus ao marxismo em 1959, quando o Partido Social Democrata Alemão, no Congresso de Bad Godsberg, abandonou a referência à luta de classes, ao proletariado e à revolução socialista. Por outro lado, o congresso mudou a relação do partido com a democracia representativa: de tática para tomar o poder ela virou “valor universal”.

O período de 1950 a 1979 foram os “anos dourados” da social-democracia europeia. Com ajuda do Plano Marshall, do keynesianismo e, às vezes, até dos partidos conservadores, a social-democracia construiu o welfare state na Europa, com pleno emprego, ampla rede de proteção social e garantias individuais. O preço foi se alinhar aos Estados Unidos e à OTAN (aliança militar ocidental) contra a União Soviética. Já esta última, apesar de experimentar grande desenvolvimento econômico e tecnológico, enfrentou muitas rebeliões em seus satélites do Leste: Belgrado (1947); Berlim (1953); Budapeste e Varsóvia (1956) e Praga (1968) – todas, à exceção de Belgrado e Varsóvia, sufocadas com tanques do Pacto de Varsóvia. Mesmo a vitória dos comunistas na China, em 1949, se revelaria fonte de permanentes dores de cabeça para Moscou, até o rompimento, em 1961.

Berlinguer, Carrillo e Marchais, os pais do Eurocomunismo
Os anos 1970 e 1980 trouxeram mudanças significativas para os grandes partidos comunistas e socialistas da Europa ocidental. Em primeiro lugar, os maiores PCs do Ocidente (Itália, França e Espanha) romperam com a tutela de Moscou e fundaram o “Eurocomunismo”, uma tendência que, de certa maneira, fez o caminho de volta e abraçou as teses reformistas que o SPD adotara em Bad Godsberb. Entre as mudanças, a mais decisiva para os comunistas foi a admissão de que a democracia deixara de ser expediente tático para se tornar “valor universal”, como para os social-democratas.

Estátua de Lênin retirada
Estes, por sua vez, viveriam uma espécie de “reação termidoriana”. Acossados pelos conservadores, que adotaram o receituário neoliberal para desmantelar o welfare state, os social-democratas capitularam, copiando a fórmula de seus inimigos. Começaram na Espanha, com Felipe González; depois na França, com François Mitterrand; no Reino Unido, com Tony Blair; e finalmente na Alemanha, com Gerhard Schröder. Ao aplicarem as mesmas políticas de austeridade, arrocho, corte de impostos e aumento do desemprego de Thatcher e Ronald Reagan, os social-democratas jogaram a última pá de cal no welfare state, talvez o melhor experimento social da humanidade. A queda do Muro de Berlim (1989) e a implosão da União Soviética (1991) acabaram por completar esse desmonte. O resultado é que hoje não apenas a utopia comunista foi derrotada; também a ideia do capitalismo com face humana morreu. Ficamos à mercê das teorias liberticidas de Milton Friedman e Friedrich Hayek, irremediavelmente fadados a viver no mundo hobbesiano do homem como lobo do homem.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário