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terça-feira, 22 de maio de 2012

LIVRO INVESTIGA CASO DSK E REATIVA HIPÓTESE DE PERSEGUIÇÃO POLITICA



Capa do livro Three Days In May, de Edward J. Epstein. Foto: Reprodução
Capa do livro Three Days In May, de Edward J. Epstein


Ligia Hougland - Direto de Washington -
Há cerca de um ano, a imprensa mundial foi dominada por notícias sobre o caso de acusação de assalto sexual feita pela camareira Nafissatou Diallo, do hotel Sofitel, em Nova York, contra um dos homens mais poderosos do planeta. Dominique Strauss-Kahn, o prestigiado diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) estava prestes a anunciar sua candidatura à presidência da França. Mas o caso DSK, como ficou conhecido, foi, aos poucos, revelando ser mais complexo do que parecia.
Cheio de ingredientes de grande apelo, como sexo, poder e política, o caso despertou o interesse do célebre jornalista investigativo americano, Edward Jay Epstein, autor de livros polêmicos sobre o assassinato de John F. Kennedy, entre outras obras, e constante farejador de notícias não reportadas pela imprensa. O trabalho investigativo de Epstein resultou no livro Three Days in May (Três dias em maio, em tradução livre).
Edward Jay Epstein
Em entrevista exclusiva ao Terra, Epstein fala nos aspectos curiosos do caso DSK, inclusive o desaparecimento do Blackberry para uso oficial do ex-diretor gerente do FMI, o possível envolvimento do hotel Sofitel e dos serviços de inteligência da França, além da má condução da justiça pela cidade de Nova York.
Terra - Por que o caso de acusação de assalto sexual e prisão de Dominique Strauss-Kahn, em Nova York, no ano passado, despertou seu interesse?
Epstein - O caso não despertou meu interesse quando ouvi as primeiras notícias, pois eu nem sabia bem quem Strauss-Kahn era. O jeito que a imprensa - o New York Times, por exemplo - deu a notícia parecia que era simplesmente um caso de um executivo poderoso ter molestado uma mulher.
Terra - Então, por que o senhor resolveu investigar o caso, depois de saber mais?
Epstein - O que despertou minha suspeita é muito simples. Nosso mundo mudou, e smartphones, como o Blackberry, informam a posição global do usuário a cada segundo. Tenho um amigo que é proprietário da Blackberry Research in Motion (RIM) e, quando fiquei sabendo que o telefone de Strauss-Kahn havia desaparecido, achei que talvez eu conseguisse localizá-lo, o que renderia uma história interessante. Quando contatei meu amigo, descobri que o telefone de Strauss-Kahn nunca tinha saído da suíte do hotel. Além disso, o telefone havia sido desativado 25 minutos depois de Strauss-Kahn sair da suíte. Isso quer dizer que outra pessoa havia entrado no quarto e desativou o telefone dele. A partir disso, analisei toda a situação e conclui que esse era um caso que envolvia não apenas um crime, mas dois. Havia o roubo de um telefone e um suposto assalto sexual. Depois de um tempo, o suposto assalto sexual desapareceu, pois os promotores decidiram abandonar o caso.
Terra - Na sua opinião, o ex-diretor gerente do FMI foi tratado de forma injusta em Nova York como consequência das acusações feitas pela camareira, Nafissatou Diallo?
Epstein - Falei com os promotores e eles me disseram que a suposta vítima Nafissatou Diallo tinha mentido para o grande júri. As pessoas podem mentir e ainda assim ser vítimas, é claro. Strauss-Kahn foi pronunciado réu com base no testemunho de uma única testemunha, e essa testemunha era a única prova que o grande júri tinha de um possível assalto, nada mais provava que isso tinha ocorrido. Conforme mais veio à tona, se descobriu que a testemunha não era uma pessoa que tinha um compromisso com a verdade e, possivelmente, havia cometido perjúrio (falso testemunho). Sem dúvida, houve uma má execução da Justiça. Ninguém deve ser posto na cadeia e pronunciado réu com base em falso testemunho. Não havia motivo para presunção da culpa de Strauss-Kahn, pois a credibilidade da única testemunha, de acordo com os promotores, não resistiria a nenhum tipo de escrutínio.
Terra - E foi a partir daí que seu trabalho de jornalismo investigativo começou?
Epstein - Eu me interessei em investigar como esse caso se desenvolveu de modo a prejudicar DSK. Todos têm direito a ser considerados inocentes, até o contrário ser provado. Nesse caso, esse homem era diretor gerente do FMI, ex-ministro do governo francês e um cidadão respeitado. Não existia motivo algum para ele não ter sido solto mediante pagamento de fiança. Strauss-Kahn foi preso por motivos políticos ou para impressionar a opinião pública. A carreira de Strauss-Kahn foi destruída e ele perdeu o direito de concorrer a presidência da França.
Terra - O senhor acredita que Strauss-Kahn foi vítima de uma armadilha?
Epstein - Isso é complicado, depende muito do contexto de "armadilha". Acredito que ele estava sendo seguido e estava sob vigilância. O serviço de inteligência francesa estava seguindo ele com o objetivo de reunir informações que poderiam ser usadas durante a campanha presidencial, disso eu tenho certeza. Seja o que for que tenha acontecido no Sofitel, logo que a camareira fez sua reclamação, aconteceram coisas com o objetivo de assegurar que a reclamação fosse encaminhada à polícia de uma maneira que levaria à prisão de DSK no aeroporto. Tudo isso foi controlado. O promotor recebeu informações de representantes do governo francês que levou à recusa de liberdade mediante fiança a Strauss-Kahn. O caso contra ele foi orquestrado por pessoas que tinham informações obtidas por vigilância a fim de destruir sua carreira.
Terra - O que faz com que o senhor tenha tanta certeza disso?
Epstein - Falei com diversos gerentes de hotéis da mesma classe e tamanho do Sofitel, em Nova York, sobre o que fariam em circunstâncias semelhantes a do caso DSK. Todos me disseram que a primeira coisa que fariam seria levar a camareira para uma sala privada, eles não a deixariam sentada no corredor por uma hora. Depois disso, chamariam alguém de Recursos Humanos, que explicaria à camareira o que aconteceria se ela prosseguisse com a reclamação e as consequências legais e outras para ela. Os gerentes com quem falei ficaram chocados que o departamento de Recursos Humanos e nem mesmo o gerente do Sofitel falaram com a camareira.
O que aconteceu é que a camareira, de acordo com o que podemos ver nos vídeos do hotel, relata a história diversas vezes, o que pode ser interpretado como se alguém estivesse ensaiando ou revisando o que ela contava. E a camareira conta o ocorrido em frente aos dois homens que parecem estar lidando com o caso (Derek May, segurança e representante de sindicado, e Brian Yearwood, chefe de engenharia). O estranho é que, depois de chamarem a polícia, os dois homens dançam em celebração. Mas os gerentes de hotel me disseram que seria um desastre para o Sofitel, em termos de relações públicas e imagem, se a polícia fosse chamada.
Portanto, a última coisa que o pessoal de segurança faria é celebrar que a polícia foi chamada. É importante lembrar que, naquele momento, eles ainda nem sabiam se a camareira estava dizendo a verdade ou não, e Strauss-Kahn é um dos hóspedes mais importantes do hotel. Esses dois homens tinham que ter algum motivo para celebrar dançando. Talvez durante o processo civil se fique sabendo o motivo para isso, apesar de eles dizerem que não lembram o motivo da celebração. Acho que é uma indicação de que esses dois funcionários, ou pelo menos um deles, acharam que receberiam algum tipo de bônus pela camareira ter optado por chamar a polícia.
Terra - O senhor suspeita que a camareira foi orientada pelo pessoal de segurança do hotel Sofitel sobre o que dizer à polícia?
Epstein - É muito interessante observar que a mentira que Diallo contou ao grande júri é que ela não tinha entrado no quarto 2820 (em frente à suíte 2806, onde se hospedava Strauss-Kahn). Mas, na realidade, ela entrou naquele quarto várias vezes naquele dia, três vezes antes do incidente e novamente depois disso. Por que ela mentiu especificamente sobre isso para o grande júri, promotores e polícia? Se observamos o vídeo de quando ela está se preparando, ensaiando ou repetindo uma história, nossa curiosidade desperta sobre o que ela estaria sendo solicitada a falar sobre o caso. Isso não sabemos, pois o vídeo não tem áudio. Mas sabemos que o pessoal de segurança do hotel tinha os registros de entrada nos quartos e não os forneceu aos promotores até seis semanas mais tarde. Isso é apenas uma coincidência ou o pessoal do hotel pediu que Diallo não mencionasse o quarto 2820?
Terra - O senhor acha que há uma ligação entre a camareira e o desaparecimento do Blackberry usado por Strauss-Kahn para assuntos relacionados ao FMI?
Epstein - Ela pode estar ligada a isso. Ela pode ter pego o Blackberry, o escondido em algum lugar na suíte ou poderia haver outra pessoa na suíte ao mesmo tempo em que ela estava lá.
Terra - Recentemente, o senhor entrevistou Strauss-Kahn em Paris. Qual foi sua impressão dele?
Epstein - Ele está bem. Estava bem vestido, não parecia deprimido.
Terra - Strauss-Kahn tem planos de retornar ao serviço público?
Epstein - Acho que ele, sem dúvida, está ansioso por volta a trabalhar, seja no setor público quanto no privado.
Terra - Alguns jornalistas, como Christopher Dickey, do website de notícias The Daily Beast, dizem que o seu livro provoca o público com informações que levam a teorias de conspiração, mas que, na verdade, não provam nada. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Epstein - As pessoas podem dizer o que quiserem. Eu forneço as informações que descubro e não sou um profissional do mundo jurídico que precisa desenvolver um caso. Levanto perguntas sobre o que ocorreu nos bastidores do hotel e mostro que Strauss-Kahn estava sob vigilância e que os promotores indicaram que a justiça foi mal aplicada. Algumas pessoas, como Dickey, afirmam conclusões que não se encontram no meu livro. Essas pessoas dizem que eu chego a conclusões sem ter provas quando a conclusão é, na verdade, delas. Mas acho que o caso DSK teve um contexto político.
Especial para Terra

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